A Obsolescência Programada na Moda

Lá por volta de 1970, em meio à crise do petróleo, surgiu um modelo de produção que prometia democratizar a moda: o fast fashion. A ideia era simples — produzir roupas em grande escala, com rapidez e baixo custo. O modelo se espalhou pelo mundo e, no Brasil, foi adotado por diversas marcas de varejo. Durante a pandemia da COVID-19, o setor da moda foi impulsionado pelas compras online. No entanto, esse modelo de produção traz diversos problemas. A professora Francisca Dantas Mendes, da USP e coordenadora do Núcleo de Apoio à Pesquisa Sustentabilidade na Cadeia Têxtil (NAP SUSTEXMODA), explica que o fast fashion é caracterizado por produtos produzidos, consumidos e descartados em um curto período de tempo, devido à baixa qualidade das roupas e às constantes mudanças nas tendências de moda. Os principais impactos negativos desse sistema estão nos âmbitos social e ecológico. A produção em massa e o foco na redução de custos resultam em roupas frequentemente malfeitas, projetadas para serem descartadas após pouco uso. Essa cultura de consumo excessivo contribui significativamente para a poluição e o desperdício. A indústria da moda é considerada a segunda maior poluidora do planeta, ficando atrás apenas das indústrias de petróleo e gás. Em relação ao danos ao meio ambiente, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza, cerca de 35% das micropartículas de plástico nos oceanos vêm das roupas sintéticas, que liberam esses resíduos durante as lavagens. Isso contribui para o consumo de plásticos por animais marinhos e também contamina a água potável consumida por humanos. Esses materiais podem levar até 200 anos para se degradar. Outro problema é a violação de direitos autorais. É comum que lojas de fast fashion se apropriem de designs desenvolvidos por outras marcas e os revendam por preços extremamente competitivos. A qualidade de um tecido depende de diversos fatores, como a fibra utilizada, a trama e o acabamento. Tecidos de fibras naturais, como algodão, linho, lã e seda, são geralmente considerados de alta qualidade devido à sua durabilidade, conforto e respirabilidade. Já tecidos sintéticos, como poliéster e nylon, embora possam ter alta qualidade dependendo do processo de fabricação, são amplamente utilizados no fast fashion devido ao menor custo. Fatores que influenciam a qualidade dos tecidos: • Fibra: As fibras naturais são geralmente mais macias e confortáveis, mas também podem ser mais caras. As fibras sintéticas são mais resistentes e duráveis, mas podem não ser tão confortáveis. • Trama: A forma como os fios são entrelaçados para formar o tecido influencia sua resistência. Uma trama mais densa geralmente resulta em um tecido mais durável. • Acabamento: Pode afetar a aparência, toque e desempenho do tecido. • Peso e espessura: Tecidos mais pesados são geralmente mais duráveis; os mais leves são ideais para climas quentes. • Solidez das cores: Refere-se à capacidade de manter a cor após lavagens e exposição à luz. • Resistência ao encolhimento e deformação: Importante para a longevidade da peça. • Resistência ao pilling: Bolinhas na superfície que comprometem a aparência e o conforto. Exemplos de tecidos e suas características: • Algodão: Versátil, confortável e respirável. • Seda: Elegante, macia e luxuosa. • Linho: Leve, fresco e durável. • Poliéster: Resistente, durável e fácil de cuidar. • Lã: Quente e macia. • Viscose: Leve, fluida e fresca. • Nylon: Leve, resistente e durável. Ao escolher um tecido, é importante considerar o uso previsto e as características desejadas. Para roupas de verão, por exemplo, o linho ou a viscose são boas opções. Para o inverno, a lã se destaca por sua capacidade de aquecer. Detalhes sobre a baixa qualidade: • Materiais sintéticos: Uso intensivo de fibras derivadas do petróleo. • Confecção malfeita: Materiais baratos e pouca atenção à durabilidade. • Descarte rápido: Estímulo ao consumo e descarte frequente. • Impacto ambiental: Geração de resíduos, poluição da água e emissões de carbono. Diante desse cenário, surge o movimento slow fashion, que prioriza o design sustentável e busca prolongar o ciclo de vida dos produtos. Esse modelo valoriza tecidos menos agressivos ao meio ambiente, tingimentos naturais e produções transparentes, aproximando o produtor do consumidor, é o modelo Cradle-to-Cradle (C2C), ou “do berço ao berço”, que propõe que as peças voltem à indústria para serem reaproveitadas. O crescimento dos brechós online também reflete essa mudança de comportamento, oferecendo roupas de boa qualidade a preços acessíveis e promovendo um consumo mais consciente. A diferença entre fast fashion e slow fashion vai além do ritmo de produção. Eles representam visões opostas da cadeia da moda, afetando o meio ambiente, a economia, o comportamento do consumidor e os direitos trabalhistas. Slow Fashion • Produção lenta e consciente, com lançamentos sazonais ou pontuais. • Valoriza o design atemporal. • Foco na qualidade e durabilidade das peças. • Incentiva o consumo responsável. • Utiliza tecidos sustentáveis (naturais ou reciclados). • Apoia o reaproveitamento e a reciclagem. • Produção em menor escala, com menor impacto ambiental. • Uso de tingimentos naturais e menos consumo de água. • Priorização de tecidos de alta qualidade. • Produção justa, com boas condições de trabalho. • Estímulo a produções locais e rastreáveis. • Preço mais elevado no curto prazo, mas com melhor custo-benefício. • Consumo consciente: comprar menos e melhor. As redes sociais também impulsionam esse modelo, promovendo a cultura do “look do dia” e o medo de repetir roupas. Celebridades e influenciadores promovem coleções limitadas, criando um senso de urgência e incentivando compras impulsivas. Essa lógica transforma a roupa em um bem descartável. A conexão com o que se veste é perdida e fica cada vez mais difícil desenvolver um estilo pessoal e consciente. Em termos emocionais, o consumismo impulsionado pelo fast fashion pode gerar frustração e ansiedade, alimentando um ciclo compulsivo de compras. Este sistema promove a obsolescência programada — quando o material é propositalmente projetado para se tornar obsoleto ou não funcional em pouco tempo —, além de provocar a sensação de que os produtos recém-lançados são mais modernos do que os adquiridos anteriormente. Questionar esse modelo é essencial para promover uma relação mais saudável com a moda, baseada em qualidade, propósito e responsabilidade. Diante do exposto, penso que o que devemos fazer é fazer escolhas melhores. Aprender a usar variações, ter criatividade para fazer diversas combinações, aprender sobre paleta de cores. Inclusive, indico fortemente o uso do círculo cromático — só comprem! Vocês nunca mais farão combinações da mesma forma. Enfim, precisamos estar cada vez menos influenciados por essa indústria da moda. Se tivermos que comprar, que sejam boas peças, que nos acompanhem por muitos anos e estejam presentes nos nossos melhores momentos.

Maya Freitas

5/21/20251 min read